27 de março de 2018

Obrigada


Quero agradecer, em nome do meu filho, pelos muitos saquinhos de queijinhos Babybel que ele tem recebido desde que o texto "A prenda mais desejada" (post abaixo) foi publicado na Revista Lar Cristão. Nunca imaginei que tivesse tal retorno! Muito obrigada pelo vosso carinho.

A prenda mais desejada

O meu filho mais novo tem um hábito, que é comum a muita gente, e que me incomoda bastante: ele gosta de roer as unhas. Depois de muitas tentativas para o tentar demover de o fazer e depois de inúmeros apelos nesse sentido, decidi jogar a “cartada final” e fiz-lhe uma proposta irrecusável (e desesperada também). Disse-lhe: “- Se parares de roer as unhas, dou-te uma prenda… a prenda que tu escolheres!” Ao ouvir isto, os olhos dele começaram a brilhar muito e um sorriso rasgado confirmou a sua satisfação plena perante o que acabara de ouvir. “A-prenda-que-tu-escolheres” eram as palavras que ecoavam no ar. Eram também as palavras que me arrependi de ter dito, logo no segundo seguinte a tê-las pronunciado. Porém, “o prometido é devido”. E assim foi. Os dias foram passando e o meu filho teve a força de vontade de parar de roer as unhas. Chegado o dia da recompensa, perguntei-lhe o que queria que eu comprasse. Confesso que estava com receio da resposta (e dos muitos euros que isso poderia representar), porém, a sua escolha foi surpreendente. A prenda escolhida, de entre todo o universo de prendas possíveis, foi aquilo de que ele mais gosta – e que poucas vezes lhe compro - mas que não é nada de muito valioso: um saquinho de rede com queijinhos “Babybel”. Achei a sua escolha amorosa, pois eu podia dar-lhe algo muito mais valioso, porém, os queijinhos são o que há de mais valioso para ele.
Este episódio lembrou-me de imediato o profeta Eliseu e a “prenda” original que um dia escolheu receber da parte de Elias. Antes de ser arrebatado, o profeta Elias perguntou a Eliseu, seu discípulo: “Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti” (II Reis 2:9). Elias tinha sido usado por Deus para operar milagres tremendos, pelo que certamente poderia fazer algo “enorme” por Eliseu, como dar-lhe riquezas ou saúde. No entanto, Eliseu não pediu aquilo que seria de esperar pela lógica humana, mas escolheu algo que Elias considerou uma “coisa dura”: - Peço-te que haja sobre mim dobrada porção de teu espírito.” Aquilo que Eliseu mais desejava era continuar a servir a Deus, dando seguimento ao grande ministério de Elias, bem ciente, na sua humildade, de que para isso necessitava do poder do Espírito Santo de Deus. Não ía ser fácil, é certo. Porém, Eliseu fez a melhor escolha e Deus respondeu ao seu pedido, dando-lhe a “herança” desejada. Eliseu teve um ministério tremendo, tendo sido usado por Deus para operar muitos e poderosos milagres. Para ele, o Senhor era aquilo que de mais precioso possuía, era o seu tesouro.
Que a nossa primeira escolha possa ser sempre a dedicação das nossas vidas a Deus, para que possamos usufruir do gozo de sermos usados pelo poder do Seu Espírito para desenvolvermos ministérios que honrem e dignifiquem o Senhor.
(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 182, Outubro/Dezembro 2017)

9 de fevereiro de 2018

Olhos bons e olhos maus

Numa reunião de jovens, o pastor pediu aos presentes que desenhassem uma parte do seu corpo que tenha sido transformada por Deus após a sua conversão. Pediu ainda aos jovens que explicassem como se operou essa mudança. A maior parte dos jovens desenhou um coração (símbolo de excelência da conversão), ou uma boca (símbolo das mudanças operadas na linguagem) ou umas mãos (símbolo da mudança ao nível das ações praticadas). Mas, o desenho que mais me impressionou foi o de uma jovem, aluna de artes, que se tinha convertido recentemente, e que desenhou um olho lindíssimo. A explicação que a jovem deu para o seu desenho foi algo muito simples, mas de uma profundidade tão grande, que nunca esquecerei. Com a timidez própria de quem é novo na fé, mas com a expressão genuína de quem encontrou verdadeiramente Cristo, aquela jovem disse o seguinte: “Deus deu-me uma nova visão de todas as coisas!”
A Bíblia diz que os nossos olhos são a “candeia do corpo” (Mateus 6:24). Se os nossos olhos forem bons, todo o corpo terá luz. Mas se os olhos forem maus, o nosso corpo estará em absoluta escuridão. E é verdade! Quando nos rendemos a Deus, a nossa visão é transformada e passamos a ver as coisas através de um novo foco: Jesus Cristo.
Recordo, a este respeito, a primeira vez que experimentei uns óculos graduados e da alegria que senti por finalmente conseguir ver as coisas com tanta nitidez! Parecia que tudo brilhava!
Recordo também o exemplo do meu pai e a sua forma peculiar de olhar para todas as coisas. Passamos todos os dias pelas mesmas avenidas de Lisboa e enquanto eu apenas vejo prédios e carros, o meu pai delicia-se a ver os jacarandás em flor.
Quem não conhece Cristo, vive naturalmente focado em “ajuntar tesouros na terra” – a trabalhar muito, juntar dinheiro, adquirir bens, comer, beber e conviver. É uma visão centrada na auto-satisfação e que, no final de contas, é muito desgastante e vazia de sentido. Tudo o que se juntou acaba por ser “consumido pela traça e pela ferrugem”.
Esta visão das coisas é tão persuasiva que mesmo os cristãos são muitas vezes absorvidos por ela, perdendo o verdadeiro foco da vida.
Cristo convida-nos a “ajuntar tesouros no Céu”, a ter uma visão espiritual. Estes são os olhos bons! Olhos que veem o presente sob uma perspetiva eterna, com a esperança de que o melhor está por vir.
Que com o passar dos anos, nunca percamos a visão daquela jovem que, no início da sua vida cristã, já conseguia discernir com tanta simplicidade e profundidade o significado de uma visão transformada por Jesus.
(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 181, Julho/Setembro 2017)

29 de setembro de 2017

"Bom dia!"

Por estes dias, junto à entrada de uma escola secundária, presenciei um episódio que muito me tocou. Tinha acabado de dar o toque de entrada e os alunos encaminhavam-se para o portão. Notei, então, que o porteiro da escola - um homem de cabelos grisalhos, provavelmente perto da idade da reforma - dizia, amavelmente, a todos os alunos que por ele passavam: “- Bom dia! Bom dia!”. Os alunos, por sua vez, completamente alheados, nem reparavam naquele pobre homem. De olhos fixos nos telemóveis, ou no chão, ou com os auscultadores nos ouvidos, passavam ao seu lado, ignorando-o completamente.
A dada altura, já depois de terem passado quase todos, aquele homem olhou para mim e, em tom de desabafo, disse-me assim: “Todos os dias passam por mim, todos os dias lhes dou os bons dias e nunca me respondem.”
Tive tanta pena daquele homem. Que situação tão triste… Doeu-me mesmo o coração, pois sou mãe e educadora de três filhos que também passam e continuarão a passar por portões de escola. Que sociedade fria é esta em que vivemos?
Uma das coisas que mais me fascina nos evangelhos é a forma como Jesus Cristo se relacionava com as pessoas que com ele se cruzavam. O seu trato era singular. Quer fossem ricos ou pobres, religiosos ou pessoas com passados tenebrosos, titulares de cargos influentes na sociedade ou simplesmente cegos mendigos, e até mesmo crianças, a todos eles Jesus dava do seu tempo, a todos eles Jesus ouvia com atenção, interessando-se verdadeiramente pelas suas vidas. As pessoas eram uma prioridade do ministério de Jesus.
Todos os que o procuravam, eram por ele recebidos e até os que o rejeitavam eram alvo da sua atenção. A todos Jesus falou de uma forma muito pessoal, muito direcionada às suas necessidades e sempre com muito amor e misericórdia pelas suas vidas.
Este traço tão característico de Jesus, deve ser uma das marcas mais fortes dos cristãos, pois devem amar o seu próximo como a si mesmo - independentemente de quem seja o seu “próximo”.
Uma grande carência da nossa sociedade é a falta de interesse genuíno pelas pessoas que nos rodeiam – é cada um por si. Poucas são as pessoas disponíveis para ouvir os outros (ouvir com interesse e amor). Há uma enorme falta de sensibilidade pelas situações que elas possam estar a atravessar. Há também uma grande falta de afeto entre as pessoas (um abraço, uma palavra de edificação, ou de estímulo… ou simplesmente um “Bom dia!”). E, mais grave do que tudo, um desinteresse ou apatia dos cristãos pelo facto das pessoas que os rodeiam não conhecerem Cristo verdadeiramente.
Como cristãos, temos de procurar manter um coração sensível e amoroso, bem como uma palavra sábia, para com as pessoas, pois desta forma damos a conhecer o Deus de amor em que cremos. E “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13:35).
Que assim seja.

(Texto publicado na Revista Lar Cristão nº 180, Abril/Junho 2017)

17 de junho de 2017

Diálogos

Mariana: "- Foi um senhor à minha escola que disse que se as abelhas morressem todas, nós também morreríamos em 2 ou 3 anos."
Miguel: "- Quem disse essa frase foi Einstein e não são 2 ou 3 anos, mas sim 4 anos."
Mariana: "-Se aquele senhor diz que são 2 ou 3 anos eu acredito nele! Aquele senhor trabalha com abelhas, ok?"
Miguel: "- Mariana, tu não estás a ver bem! O Einstein foi o tipo mais inteligente do mundo! Ele inventou a bomba anatómica!" :))

4 de janeiro de 2017

10 anos de Rapazainhes

Em novembro passado, este blogue fez 10 anos! Em 2006, nascia o "Meus Rapazainhes" dedicado aos, então, dois rapazes da minha vida. Dez anos depois, são 3 rapazainhes e uma menina. Já foi um blogue muito activo, hoje quase não passo por aqui. Faz pena... Sei de alguns fiéis amigos que permanecem aí desse lado, aguardando um sinal de vida. Alguns até enviam mensagens pedindo que volte a escrever (muito queridos). E eu com tanto para partilhar e tão pouca determinação para parar tudo em que estou envolvida e, simplesmente, escrever. Tenho de o voltar a fazer. Por mim, por vocês, sempre honrando a Deus.

Bola de Ouro

Entro na cozinha e encontro isto sobre a mesa...
Tomás, explica com um ar convicto: "- Mãe, esqueci-me de te dizer, mas eu ganhei a Bola de Ouro!"

9 de setembro de 2016

Futebol imaginário

O mundo das crianças é extraordinário! Os meus filhos (os rapazes) têm uma brincadeira única e muito engraçada também. Quando não têm bola, jogam “futebol imaginário” - é assim que eles lhe chamam. Acreditam nisto? Futebol imaginário? Eles jogam à bola, mas sem bola. Eles imaginam a bola! E depois andam de um lado para o outro a fazer passes, a rematar e a gritar “golo” ou “poste”. Inacreditável! Agora o cúmulo: eles têm discussões sobre se houve ou não falta! Como é que eles podem ter uma discussão destas se não há uma bola? Para quem vê de fora, é de partir a rir. Mas para eles trata-se de um jogo de futebol bem real. Este “futebol imaginário” faz-me lembrar a nossa vida de fé. A Bíblia diz em Hebreus 11:1 que “… a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. Acredito que uma pessoa sem fé em Deus e que olha ‘de fora’ para um cristão, possivelmente também não compreende bem a maneira de viver dessa pessoa. Mas, para quem tem fé, tudo faz sentido, “porque andamos por fé, e não por vista” (II Cor. 5:7). A fé não nasce connosco, a fé é um dom de Deus, que “vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Hebreus 11:7). Muitas pessoas têm um conjunto de ideias soltas acerca de Deus, por vezes bastante confusas e distantes da verdade que a Bíblia nos revela. Isto não é fé. É muito importante conhecermos a mensagem da Bíblia. Quando nos aproximamos de Deus, com sinceridade no nosso coração, Deus revela-se sempre. E aí passamos a ter uma nova visão das coisas. Uma visão que faz todo o sentido.
"De facto, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aprroxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam". 

8 de setembro de 2016

Baixo e gordo

Naquele dia, calhou ao nosso filho mais novo a vez de partilhar uma passagem bíblica com a família. Prontamente, o Tomás, na simplicidade dos seus 5 anos, começou a contar uma história de que gosta muito: Zaqueu (ele até diz que quando tiver um filho vai chamar-se Zaqueu).
Tomás: "Zaqueu era um homem baixo e... gordo... ele queria ver Jesus, que andava na rua a conversar com as pessoas... então, subiu a uma árvore para conseguir vê-lo melhor... mas Jesus viu-o e disse-lhe para descer da árvore, pois queria jantar na sua casa. Zaqueu era...era tipo um assaltante... ele roubava as pessoas, pronto. Mas depois de estar com Jesus, disse-lhe que já não ía roubar mais e que ía devolver o dinheiro às pessoas."
Eu: "Então, podemos dizer que Zaqueu, depois de conhecer Jesus, tornou-se um novo homem? É isso?"
Tomás: "Não, não! Ele continuou baixo e gordo!"
Não pude conter as gargalhadas com esta resposta tão genuína! Mas, é isto mesmo. A única diferença entre um homem que não conhece Cristo e um homem que O conhece é a graça de Deus. Em nós mesmos seremos sempre "baixos e gordos". Mas a graça de Deus em nós pode operar coisas novas e maravilhosas, como aconteceu com Zaqueu. De facto, Zaqueu tornou-se um novo homem, apesar de continuar baixo (e, para o Tomás, também gordo).

7 de setembro de 2016

4º Chá com Graça

Em Abril passado, tivemos o nosso 4º Chá com Graça. Desta vez, o tema foi "Tempo de Recomeçar" e tivemos connosco a Adelaide de Sousa, que partilhou o seu testemunho de conversão a Cristo. Foi muito inspirador e desafiante. Para muitas das mulheres presentes, esta foi a 1ª vez que ouviram o Evangelho. O próximo Chá será em Outubro e está a ser preparado com muita dedicação e oração. Peço as vossas orações por este trabalho.





 

30 de junho de 2016

Varicela


No domingo passado, na escola bíblica dominical, o meu filho mais novo aprendeu a história bíblica da cura do filho de um oficial, por Jesus. A Bíblia não refere qual era a doença em concreto, apenas diz que ele tinha febre e que estava à beira da morte. Porém, as crianças têm uma imaginação muito fértil... e quando vi o trabalho manual que o meu filho fez na classe, percebi logo qual a doença que o meu filho imaginou que aquele menino tinha: varicela :)

29 de junho de 2016

Corações a arder

Há uma expressão utilizada em várias passagens da Bíblia de que gosto particularmente. É a expressão "arder o coração", utilizada por exemplo em Lucas 24:32:  "Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, (Jesus) nos falava, e quando nos explicava as Escrituras?" 
Quando ouvimos a Palavra de Deus e sentimos o nosso coração queimar, não há volta a dar, Deus está a chamar-nos para Si. É tão maravilhoso sentir o nosso coração arder! Não estou a falar de uma mera emoção, mas de um toque divino que opera uma transformação interior. Podemos até lutar contra o toque de Deus, mas quando Deus se revela não há como fugir. 
Há um hino muito antigo de que gosto muito  e que diz: " He touched me, Oh, He touched me/And Oh the joy that floods my soul/ Something happened and now I know/He touched me and made me whole" (Tocou-me , Oh, Ele tocou-me / E a alegria inunda a minha alma / Algo aconteceu e agora eu sei /Ele tocou-me e fez-me completo). 
Ontem, num funeral de um familiar de uma irmã da nossa igreja, pediram ao meu marido que desse uma breve palavra. Uma missionária da nossa igreja, que tem uma voz que é um verdadeiro dom de Deus, cantou também um hino à capela. As pessoas presentes ficaram muito tocadas, a tal ponto que as irmãs do falecido tomaram a palavra e agradeceram perante todos pelo que tinham acabado de ouvir. E quando o meu marido se apercebeu, o senhor da agência funerária estava a chorar. Disse que: "Nunca me tinha acontecido, mas isto tocou-me cá dentro!" Nos dias que correm, de tanta confusão e frieza espiritual, é por 'corações a arder' que devemos orar cada vez mais. Vidas tocadas e transformadas pelo poder de Deus.

28 de abril de 2016

Homens de Deus

No mês passado, tivemos em Queluz o pastor norte-americano Jaime Kemp e a sua esposa Judith, missionários no Brasil há perto de cinquenta anos, muito conhecidos pelo seu ministério na área da família e pelos (muitos) livros publicados acerca deste tema. Como diz uma amiga minha brasileira "o Jaime Kemp é um clássico". Durante três dias, tivemos oportunidade de aprender muitas coisas com este casal. E uma das coisas que mais me tocou foi um pormenor que Kemp partilhou a meio de uma das palestras: ele é oriundo de uma família com problemas muito sérios a nível de relacionamentos, uma família com muitas rupturas. É filho do terceiro casamento da sua mãe, a qual ainda veio depois a ter um quarto casamento, do qual já não teve filhos dada a idade avançada. Cresceu sob duras agressões verbais (principalmente da parte do pai), num ambiente de guerras constantes entre os pais e entre os irmãos. Pois bem, foi este jovem, com esta sofrida origem, que um dia Deus chamou para desenvolver um (e-n-o-r-m-e) ministério com famílias. Curioso, não é? Quantas famílias os Kemp terão ajudado ao longo de quase 50 anos? E ainda continuam no activo. De facto, é Deus quem capacita os chamados. E porque a obra de Deus é completa, há mais um pormenor maravilhoso nesta história: tanto o seu pai, como a sua mãe, converteram-se mais tarde a Cristo. Inspirador.

27 de abril de 2016

Stand up comedy

Por estes dias, uma pessoa amiga que descobriu o meu blogue deu-me, sem saber, um dos melhores elogios que alguma vez recebi. Disse-me que se eu fosse na oralidade aquilo que sou na escrita, eu dominava uma plateia de stand up comedy. Gostei tanto de ouvir isto! Eu a fazer uma plateia rir a bom rir com as minhas graçolas... Eu gosto tanto de fazer rir os outros! Muitas vezes, porém, a minha timidez não me permite dar largas ao 'borbulhar' de piadas e trocadilhos que trago dentro de mim. É que eu também gosto que me achem graça, mas e se depois não me acharem piada? Que grande constrangimento, penso eu. Na verdade, esta minha faceta não é conhecida de todos, mas apenas por quem me é mais chegado. E quando ouvi as palavras "stand up comedy" lembrei-me logo da minha única experiência deste género, há muitos anos atrás, num acampamento de jovens, devia ter uns 15 ou 16 anos. Foi muito engraçado e também muito constrangedor. Eu tinha contado uma anedota no meu grupo mais chegado de amigas (a anedota do senhor que sempre que comia feijoada passava mal da barriga) e elas 'obrigaram-me' literalmente a contar essa anedota perante todo o acampamento, numa noite social. Repito: a anedota da feijoada!! Foi horrível. Mas foi  muito engraçado também. Eu tive a sensação de que as pessoas riam-se mais do meu ar desesperado, cheio de vergonha e tiques nervosos do que da anedota em si. Decidi então relatar esta minha triste experiência de stand up comedy ao meu marido e, surpreendentemente, ouvi-o dizer-me assim: "Eu lembro-me bem disso. Eu estava lá nesse acampamento." Quase morri aqui. "Estavas lá?" "E ainda assim casaste comigo?" - pensei eu. Uma das coisas que gosto muito no meu marido é que ele acha-me graça. E eu fico toda contente. Na verdade, a oralidade tem sido uma faceta que Deus tem trabalhado na minha vida. Aos poucos, tenho tido algumas experiencias com "plateias", não para dizer apenas piadas, mas para partilhar a Palavra de Deus e experiências de fé. E, curiosamente, vai sendo cada vez menos difícil. Pois não vou na minha força, mas no Senhor. Ainda bem que Deus não usa apenas os capacitados. Ainda bem que temos fraquezas, pois é nelas que Deus aperfeiçoa o seu poder.

15 de fevereiro de 2016

Um homem ocupado

Chamo pelo meu filho mais novo, que andava a correr de um lado para o outro nas suas brincadeiras imaginárias, e peço-lhe que me traga umas roupas que estavam no seu quarto, para eu meter na máquina de lavar. Obedece prontamente. Agradeço-lhe a colaboração e ele responde-me,  em tom de aviso, como que justificando as suas muitas ocupações: "Agora não me peças mais nada, vou ter uma luta de espadas e a seguir vou cortar árvores!"

3 de fevereiro de 2016

Avó Jacinta

Cresci a ouvir dizer que era parecida com a minha avó Jacinta (por causa das feições, principalmente o nariz de ponta arrebitada). Confesso que nunca percebi bem porque é que toda a gente dizia isso (apesar de gostar muito da ideia, pois ela era bonita e sempre muito bem arranjada), até ao dia em que vi um retrato, a preto e branco, que lhe tiraram na juventude, na parede da sua casa de França. Lembro-me de ficar a olhar para aquele retrato e de reconhecer muito de mim naqueles traços. A partir daí, dei o assunto por encerrado. A minha avó era uma mulher muito sensível, mas muito forte também. Foi costureira e catequista, numa pequena aldeia do Ribatejo, mas um dia falaram-lhe do Evangelho e converteu-se, bem como o meu avô e boa parte da família. Por causa disso, sofreram perseguição. Isto há 70 anos atrás, outros tempos. Teve uma filha e cinco filhos, um deles o meu pai. A dada altura, a família emigrou para França, como tantos outros portugueses naquele tempo, em busca de uma vida melhor. Trabalharam muito e continuaram sempre fieis a Deus, servindo na igreja de língua portuguesa. Porém, o meu avô, homem fiel a Deus, acabou por partir para o Senhor ainda muito novo, na sequência de uma indisposição súbita no trabalho. A minha avó ficou só, "tão cedo" - dizia ela muitas vezes. Mas, seguiu em frente e foi uma verdadeira matriarca, unificadora e apaziguadora. 
Para mim, a minha avó representava, acima de tudo, afeto. Sempre que estava com ela, nas férias de verão, recebia injeções de amor, em doses industriais. Beijos, muitos beijos (ela dava muitos beijinhos repenicados seguidos, sem parar). Recebia tantos miminhos bons, tantas atenções. E todo este afeto teve uma importância muito grande na minha vida (posso avaliar agora), contribuindo para o meu equilíbrio emocional. As avós podem ter um papel muito importante e compensador. Apesar de termos vivido em países diferentes, foi sempre uma avó presente. Recordo as cartas que escrevíamos, os telefonemas, as confidências. Recordo as férias que passámos juntas, os presentes (todos os anos, ganhava uma camisa de dormir), os chocolates franceses, os lanches na pastelaria e as histórias (a minha avó perdia-se por uma boa história de amor). Recordo também o seu grande sentido de humor (que o meu pai herdou). Era uma mulher simples, mas esclarecida, dada à leitura e muito educada. Toda a gente gostava da minha avó. E eu amava-a muito. Ela tinha agora quase 92 anos e eu sabia que estava avançada em dias, por isso eu temia. Mas, finalmente, agora está com o seu Senhor. Agradeço muito a Deus pela sua vida e por todo o amor que distribuiu por tanta gente. Era o amor de Jesus nela.  Ficam as memórias e o seu precioso testemunho de fé. Até um dia, avozinha.

26 de dezembro de 2015

Jorge - continuação.

Com a barriga completamente cheia de guloseimas do Natal, aproxima-se de mim enquanto lavo a louça e, sem dizer nada, num gesto muito convicto, estica-me a mão. Olho para a mão dele e vejo uma enorme moeda de 2 euros (de chocolate), que ganhou dos irmãos da igreja ucraniana.
- "Queres que 'descasque' a moeda, é isso?" - pergunto-lhe eu.
Com um ar muito sério, tentando mostrar total segurança, abana a cabeça dizendo que sim.
Fez-se silêncio. Pego na moeda, descasco-a e entrego-lha na mão (pois percebi que, apesar de ele já ter comido muitos doces, ele queria muito provar as moedas).
Noto uma expressão de surpresa no seu olhar (certamente, achava que eu não o ía deixar comer a moeda),  e enquanto vira costas, diz-me ainda com aquele ar seguro e sério: "Obrigado, mamã. A moeda é para o Jorge."

2 de novembro de 2015

Jorge

Não sei o que lhe deu naquele dia, mas depois de jantar já me tinha pedido comida por diversas vezes. Ora era uma bolacha, ora uma banana. A certa altura, disse-lhe que ía dar-lhe leite e que depois ele ía para a cama sem mais comida. Ficou calado. Dali a pouco, entrou devagar na cozinha, olhou para mim e, na sua sabedoria de 4 anos de idade apenas, começou esta conversa:
"- Mamã, sabes, eu tenho um cavalo...".
"- Eu sei que tens um cavalo." - respondi-lhe.
"- Sabes, o meu cavalo chama-se Jorge." - continuou ele.
"- Ai é? Está bem, Jorge é um bom nome." - respondi-lhe, sem perceber muito bem onde é que ele queria chegar.
Até que ele avança: "- Mamã, o Jorge quer uma tosta!"

Brincar às lojas no séc. XXI

Os meus filhos gostam muito de brincar às lojas. Qualquer canto da casa é bom para montar uma loja, com diversos artigos em exposição e uma caixa registadora a postos. Eu e o meu marido, como sempre, somos os clientes. Por estes dias, o meu filho mais novo (de 4 anos) montou uma loja de motas. Como de costume, comprei-lhe um artigo, dei-lhe o dinheiro (imaginário) e fiquei a aguardar pelo troco. Foi então que ele me fez uma pergunta inesperada. Enquanto marcava os números na registadora, perguntou-me com um ar muito seguro de si: "-Quer com contribuinte?"

21 de setembro de 2015

10

O nosso filho mais velho é um menino muito poupado. Guarda todas as moedas e notas que ganha na sua ovelha-mealheiro e sabe de cor quanto dinheiro tem lá dentro. Guarda todos os doces que ganha num saco, para depois comê-los aos poucos, durante várias semanas. Faz pequenos trabalhos para ganhar mais moedas. Abre o portão, tira cafés, entre outras coisas. Tem planos bem definidos para o seu dinheiro e fala muitas vezes das coisas que pretende comprar um dia. Tudo brinquedos, claro. No dia do meu aniversário fez uma coisa que nunca esquecerei. Passámos o dia fora, na minha terra, e quando regressámos a casa, já de noite, pediu ao pai que o levasse ao Colombo. Eu ouvi a conversa e opus-me logo, pois já era muito tarde. Além do mais, o Colombo estava quase a fechar. Ao ouvir isto, começaram a rolar-lhe lágrimas pela cara, umas atrás das outras. Ele não dizia nada, só lhe caíam lágrimas e tinha uma expressão muito triste. O meu marido percebeu que havia ali alguma coisa de diferente. Falou com ele à parte e saíram porta fora. Quando regressaram, o meu filho vinha com um ar muito feliz. Na mão trazia um saquinho da loja Pandora, com um laço cor-de- rosa. Lá dentro, vinha uma conta de prata, para eu colocar na minha pulseira. Uma conta toda rendilhada de corações sem fim. Ele gastou todo o dinheiro que tinha. “-Gastaste todo o teu dinheiro?” " - A minha mamã merece tudo” - respondeu-me. A expressão de felicidade com que ele me deu aquela prenda está gravada aqui bem dentro. Nunca esquecerei. Este é o Miguel, o nosso querido filho e que hoje completa 10 anos de vida. Um menino cheio de vida, cheio de alegria e um imenso coração bom. Damos muitas graças a Deus por nos ter confiado este menino tão especial. É um privilégio muito grande. E que o Miguel possa crescer sempre no temor do Senhor e tornar-se um homem de fé, cheio de amor por Deus e cheio de amor pelo seu próximo. Parabéns, meu querido!